Alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFAL/Campus Arapiraca fizeram, no último dia 3, uma intervenção física e social na Comunidade Frei Damião. Mais de 900 famílias vivem no local, considerado um dos assentamentos mais precários existentes na cidade de Arapiraca. A ação marcou o encerramento das atividades de duas disciplinas que foram ministradas com foco na função social do arquiteto e urbanista.
A intervenção consistiu na pintura da fachada da Associação de Moradores e a organização do espaço interior da sede comunitária. O desenho da fachada foi elaborado pelos próprios alunos dentro do lema da associação “União sem preconceito”, fazendo referência também à parceria entre a Universidade e a comunidade local.
Os materiais usados na intervenção foram obtidos por meio de uma campanha de doações coordenada pelos alunos e professores do curso. Além das tintas e pincéis, o grupo também recebeu roupas, alimentos e objetos de higiene pessoal, os quais foram repassados para a Associação de Moradores que ficou responsável de fazer a distribuição para a comunidade local.
De acordo com o professor Ricardo Victor, a Arquitetura tem uma função social e as intervenções não devem parar por aí. “Espero que a função social da Arquitetura esteja sempre na pauta dos atuais e futuros profissionais da Arquitetura e Urbanismo. Quisera voltarmos para construir os projetos das unidades habitacionais e espaços comunitários cuidadosamente elaborados nas disciplinas. Quem sabe um dia...”.
A líder comunitária Ceci Barbosa exclamou “eu fiquei surpresa! Porque nunca foi feita uma doação tão grande dentro da comunidade. Mas hoje, graças a Deus, através da UFAL, todos aqui estão felizes! Um trabalho bonito e valoroso”. E reiterou “Quem puder continuar ajudando, a gente só tem a agradecer”. A sede da Associação Comunitária do Frei Damião fica localizada na Rua nº 05, no Frei Damião, também conhecido como Valentim, no bairro da Canafístula, em Arapiraca.
Nessa perspectiva, os moradores e alunos foram convidados a deixar a marca de suas mãos pintadas na parede lateral da entrada da Associação, evidenciando que a ação foi produto de um trabalho coletivo. O ambiente interno também foi modificado, recebendo pintura artística nas paredes e mobiliários confeccionados no local pelos alunos a partir de materiais reciclados, como bancos de pneus e cordas e suporte para vasos com plantas feito de paletes envernizados.
Os alunos mostram entusiasmo e seus relatos são de euforia e felicidade. “Muito gratificante essa experiência! Agradeço a todos os envolvidos por nos proporcionar isso. Cada sorriso de satisfação dos moradores daquele assentamento só reafirmou que conseguimos fazer muito com pequenos gestos!”, disse a aluna Olga Francino.
Os alunos ficaram sensibilizados com a realidade encontrada e perceberam a importância da função social da arquitetura e do urbanismo, verificando que com criatividade é possível fazer muito com pouco.
“Faltam palavras, mas esse foi um dos melhores momentos vividos na graduação. A melhor atividade fora dos muros da universidade em contato direto com a população marginalizada e que não tem acesso a Arquitetura e o Urbanismo pregado na academia”, disse o aluno Marcos Antônio Francelino, que também é membro da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura (FENEA).
“Sem esta força coletiva não haveria uma ação correspondente. Essa ação marcou não somente os moradores, mas gerou uma ampla satisfação nos alunos, que ao participarem de situações reais como esta, levaram a universidade e conhecimentos técnicos a quem precisa”, finalizou a professora Simone Romão.
Pesquisa in loco
O primeiro contato com os moradores foi feito com acompanhamento da líder comunitária Ceci Barbosa, que apresentou as instalações da Associação de Moradores e percorreu a pé toda a área destacando as necessidades locais. As informações levantadas embasaram as discussões em sala de aula, seguido da elaboração de diagnósticos temáticos da realidade local.
A etapa seguinte consistiu na elaboração de propostas urbanísticas e arquitetônicas para a realidade encontrada. Na disciplina de Projeto de Arquitetura 5, ministrada pelos professores Ricardo Victor e Simone Torres, os alunos trabalharam com propostas de diferentes arranjos construtivos que contemplassem áreas verdes e espaços comunitários, além de propostas para as unidades habitacionais que atendessem o perfil das familias residentes no Frei Damião.
Na disciplina de Projeto de Urbanismo 2, ministrada pela professora Simone Romão, os alunos refletiram as questões de segregação físico-espacial da comunidade em relação à cidade de Arapiraca e produziram os diagnósticos dos temas urbanos. Posteriormente, foram definidas as diretrizes habitacionais e urbanísticas como síntese da problemática e de ações propositivas para a melhoria da qualidade de vida urbana do Frei Damião.
Integração de resultados
Essa é a segunda vez que as duas disciplinas são ofertadas de forma integrada, desenvolvendo as atividades a partir de uma realidade local em assentamentos precários. As duas turmas anteriores trabalharam com a comunidade Mangabeiras, próximo ao lixão de Arapiraca, constituída, em grande parte, por catadores de materiais reciclados. A experiência dessas turmas desdobrou-se em diversos Trabalhos de Conclusão de Curso discutindo a problemática da área e apresentando propostas para intervenção.
Entretanto, essa é a primeira vez que os alunos retornam à comunidade no final do semestre para realizar uma ação de intervenção. A iniciativa foi amadurecida em sala de aula aliando-se ao desejo dos alunos em dar retorno à comunidade como forma de agradecimento pela acolhida. A proposta foi tão instigante que alunos de outros períodos do curso se juntaram à turma para a ação, a exemplo dos alunos integrantes do projeto PROINART “Mão na Massa”, da aluna Thamires Leonel, que fotografou toda a ação e também os alunos do 10º período que fizeram doações expressivas de roupas.